Quando entrar em ação, Daniel terá de mostrar serviço em duas rodadas de 36 flechas, que servem como classificação para a fase seguinte. Aí, os 64 atletas competem novamente, mas em disputas eliminatórias, e assim vai até o final. A inspiração em Robin Hood, um lendário herói local, é inevitável. Mas o rapaz avisa que quer transformar a ficção em realidade e acertar bem no meio do alvo. Como é participar da competição de tiro com arco nos Jogos Olímpicos justamente na terra onde surgiram as histórias de Robin Hood?
Nos treinamentos, a gente até comenta com os voluntários dos Jogos sobre isso. Muitos são arqueiros e aqui na Inglaterra existem clubes tradicionais, com mais de 200 anos de existência. Até a família real já praticou e isso está dentro da cultura inglesa.
Você acredita que esse lendário herói inglês influenciou o esporte?
Com certeza as histórias do Robin Hood influenciaram, sempre foi assim e para mim também. Se não me engano, o filme com o Kevin Costner (Robin Hood, o Príncipe dos Ladrões, de 1991) surgiu mais ou menos quando comecei a praticar. O legal é que vários filmes remetem ao arco e flecha e até ajudam a aumentar o número de praticantes. Só que o esporte é diferente da fantasia.
Como foi seu início de carreira?
Comecei a praticar em 1993, por influência principalmente do meu pai, José Maurício Xavier. Ele pratica o tiro com arco há 30 anos e já foi da seleção brasileira. Minha irmã também já foi para um Pan, o de Winnipeg. Ou seja, minha família toda pratica o esporte. Você estará em ação na próxima sexta, no mesmo dia da cerimônia de abertura. Será o primeiro atleta nacional a competir individualmente.
Como se sente?
É uma honra ser o primeiro brasileiro a competir individualmente. Estou concentrado no treinamento e na disputa, e espero ir bem. Acertar no meio do alvo dá um prazer muito grande.
Qual o seu objetivo na competição?
Quero chegar entre os 15 primeiros. Estou participando do master plan para 2016 e temos uma equipe de cinco homens e cinco mulheres que estão treinando há um ano e três meses. É a primeira vez no Brasil que temos arqueiros profissionais.
Quem é o favorito?
Acredito que seja o Brady Ellison, dos Estados Unidos. Mas também não podemos descartar os sul-coreanos, que são sempre fortes. A pressão também será grande sobre os ingleses, que estão em casa.
Você vem de bons resultados internacionais. Isso te anima?
Com certeza. Eu fiquei em nono lugar no individual na Copa do Mundo que foi realizada nos Estados Unidos e no Pré-Olímpico conquistei quatro medalhas. Isso tudo me deixa otimista, mas gosto de subir um degrau por vez.
Como está sendo sua adaptação ao local da prova?
O meu primeiro dia aqui em Londres foi muito ruim, ventou demais, estava frio e chovendo. Mas agora já estou aclimatado e me sentindo bem melhor. Uma das coisas que também afeta muito é a luminosidade. Isso tudo faz diferença na hora da competição. Acho que não vai vencer o melhor, mas quem melhor se adaptar. E além da concentração, a sorte também faz diferença na hora da prova, pois o clima pode mudar repentinamente, um vento pode soprar para um e no momento do outro não, essas coisas.
Além do esporte, você também leva o estudo muito a sério. Deu tempo para conciliar?
Sim. Hoje eu sou formado em veterinária na UFMG e fiz mestrado em Ciência Animal, quando pesquisei os efeitos da radioatividade gama na carne bovina moída.